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The Oz:

Um sonhador lúcido por natureza, eu caminho pelas ruas em constante devaneio. Olho a vida ao meu redor com os olhos de Will Eisner e a sensibilidade das histórias de Neil Gaiman. Alguém já me disse que sou o último dos românticos. De alma transparente, de coração ingênuo, calado e meio ermitão, talvez um dia eu me torne uma daquelas figuras mitológicas que dizem andar pelas ruas das cidades cinzas, mas que ninguém nunca viu. No fundo sou só um cara normal, com Orkut e amigos pseudo-malucos. Nada demais. No fundo, somos todos normais, mesmo com a esquisitice em moda.


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Echo

terça-feira, 7 de outubro de 2008

O Mundo de Oz - Tomo I: "Dead Poet"

O POETA MORTO
Cápitulo 1 - Welcome To Hell

O frio cortava-lhe as espinha em dois, mas não podia sentir. Pensava que sentia, mas não sentia. Era apenas como se o vento lhe apertasse nas costas, e ele achava que era frio, mas não podia dar certeza de que era. Afinal, lá estavam eles, Cora e ele, mortos. Vislumbrando um cemitério coberto pela neblina e dez túmulos alinhados no chão.
Ouviu passos. Então, do meio da névoa, surgiu um homem magro, sem cabelos, com uma estranha roupa vermelha e sombria, de aparência bem velha, com uma espécie de cedro na mão.
- Aqui está você! - exclamou o desconhecido.
- Quem é você? - perguntou.
Cora não estava mais sorrindo. Agarrou-se em sua boneca de pano.
- Mordenkai, ora. O demônio, quem mais poderia ser?
Fez uma cara de espanto e teve um pouco de medo.
- Ele é o primeiro, Mordenaki. Ainda não sabe sobre você, nem nada.
- Ah, claro! Tinha esquecido. Essa coisa de atemporal confunde minha cabeça às vezes. - e riu.
- Sei. Mandaram vir buscá-lo?
- Ele sente sua falta, sabia? - disse o demônio.
- Eu sei. - disse Cora, não muito feliz. - Por isso voltei.
- Não muito animada.
- Nunca volto para cá "animada". É um pré-requisito para chegar até aqui. Mas você não está aqui por minha causa.
- Oh, sim, claro. O rapaz. - virou-se para ele. - Seu caminho o espera.
- Hein? - indagou o rapaz.
- Às vezes me esqueço de como ele parece não captar as coisas, apesar de não ser bem isso. E fale direito com o rapaz, demônio. Você sabe quem ele é! - bronqueou Cora.
- Certo, certo! - virou-se para ele em reverência, quase dobrando os joelhos. - Sua presença é requisitada, milorde. Sua Saga, seu Mundo, o aguarda.
- Milorde? Meu Mundo? Eu não...
- Diga-me. Lembra de quem é, de onde veio, como morreu? - perguntou-lhe Cora.
- Não, não consigo me lembrar. - disse, depois de pensar um pouco.
- Então vamos. Confie em mim. Logo tudo será esclarecido.
Ele a olhou nos olhos dela e os viu quase translúcidos. Teve medo. Muito medo. Ele não conseguia ver, mas sabia do que tinha medo. Mordenkai não viu aquilo com bons olhos.
- Ele não vai gostar nada disso. Mas enfim...
O demônio virou as costas para eles e caminhou até o centro dos dez túmulos alinhados, no meio da enorme estrela desenhada com grama morta. Eles o acompanharam e quando já estavam ao lado daquele homem estranho, o rapaz perguntou:
- Para onde vamos?
- Ora, Oz. - disse o demônio, de forma serena. - Para o Inferno. De onde mais poderia vir um demônio?
E fez um gesto com as mãos. Os olhos de Mordenkai pegaram fogo instantaneamente e tudo ficou mais turvo e indefinido. O rapaz sentiu uma angústia sem fim e sua alma queimando. O chão se abriu e os devorou. Tudo ficou escuro.

Ouviu suspiros inteligíveis e em seguida gritos, muitos gritos. Havia algo lhe queimando por dentro, mas não sentia nem frio, nem calor. A escuridão foi dispersando e um cenário desértico e desolado foi sendo revelado. Aos poucos foi percebendo que os gritos que ouvia era gritos de dor misturados a gritos de prazer sexual. Sabia que havia um cheiro forte e ruim que ficava impregnado nas narinas, mas não podia senti-lo. Olhou para trás e viu um enorme portão que parecia ter sido feito a milhares de anos. Era composto de pedras, lâminas, ossos, sangue e espíritos desesperados. Era uma das entradas do Inferno. Mordenkai os puxou para caminhar e assim seguiram caminho. Pareciam andar por uma eternidade, um tempo interminável, por uma estrada rochosa e vermelha, com bichos estranhos que os olhavam por tocas escuras na beira da estrada.
- Que bichos são esses? - perguntou.
- Não são bichos. São almas. Condenadas a ficar espreitando o caminho dos outros. - disse Cora.
Ao longe, ele podia ver uma luz de batalha, como se houvesse uma guerra naquelas terras. E ainda os gritos o seguindo. A interminável caminhada havia chegado ao fim. Estavam diante de um enorme e incompreensível palácio. Olhou para trás e viu o enorme portão a apenas alguns metros. Entendeu, mas guardou para si.
Ao entrar no palácio, um ar de luxúria preencheu seus pulmões. O interior era todo vermelho e preto, com uma luz suave que ele não sabia de onde vinha. Havia muita gente ali dentro. Homens, mulheres e seres estranhos que ele julgou serem demônios. Estavam todos no meio de um ato sexual interminável, numa massa que parecia se mover como uma coisa só. Percebeu que os gritos de dor e prazer vinhas das mesmas bocas. Tudo se misturava a uma música pesada, com batida repetitiva e quase indecifrável.
- Desculpe-me por isso. Ele não sabe fazer outra coisa. - disse Cora, de cabeça baixa.
- Estamos aqui, senhor! - gritou Mordenkai.
- Ele quem? - perguntou o rapaz, que tentava ficar a salvo da excitação que rondava o ar.
De repente, surgiu de dentro daquela massa, um homem com um roupão vermelho e preto. Era alto, bonito, de origem difícil de decifrar. Tinha um certo charme e trazia nos olhos aquela luz de riquinhos arrogantes. Estava acompanhado por uma mulher, nua, com cabeça de gato.
- Ora, vejam quem está aqui! - exclamou o homem, estendendo a mão ao rapaz. - Meu velho e bom amigo Oz!
- Ele não se lembra, milorde... - disse o demônio.
- É, eu sei. Mas logo se lembrará. É apenas um trauma da primeira morte. Com o tempo tudo se esclarecerá dentro de sua cabeça. - cumprimentou o rapaz. - Eu sou Damien, o filho de Lúcifer. Bem-vindo ao Inferno. Quer beber alguma coisa?

postado por The Oz às 12:09 |

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O Mundo de Oz - Interlúdio

Cora lhe puxou em meio a névoa e o fez subir numa espécie de túmulo maior do cemitério. Parou lá em cima e pediu para que ele olhasse para baixo.
- Mas...
- Shiu! Olhe, apenas olhe. Tente ver por debaixo da nebilna.
Olhou atentamente e tentou ver algo debaixo daquela grossa camada de fumaça fria e sombria. Por um breve período não conseguiu ver nada, mas como a neblina se mexia com a brisa, aos poucos foi-se revelando ali um túmulo e depois mais outro. Percebeu que esles pareciam estar configurados de alguma forma ali. Esperou. Afinal, se realmente estava morto, de que importava o tempo? Mortos podem esperar décadas inteiras imóveis, olhando para o horizonte. Mas tentou não dispersar o pensamento, pois agora queria saber o que tinha ali. Foi então, num breve momento que pareceu eterno, quando a névoa se dispersou um pouco mais, que pode contemplar os túmulos. Eram dez. E estavam num formato quase circular, ligados por traços no chão que arriscavam desenhar uma estrela de dez pontas. Nas extremidades, os dez túmulos em círculo. E entre eles, o seu, aquele em cima do qual ele estava quando acordou.
Intrigado, esperou mais um pouco e pode ver de relance o nome "Oz" em todos eles. Como a garota havia lhe chamado por esse nome, assustou-se.
- Eu... São meus parentes ou algo assim? Ou eu já morri dez vezes? - resmungou, com uma dose de humor questionável.
Ela riu.
- Não! Essa é a primeira vez! Mas outras nove virão.

postado por The Oz às 02:01 |