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The Oz:

Um sonhador lúcido por natureza, eu caminho pelas ruas em constante devaneio. Olho a vida ao meu redor com os olhos de Will Eisner e a sensibilidade das histórias de Neil Gaiman. Alguém já me disse que sou o último dos românticos. De alma transparente, de coração ingênuo, calado e meio ermitão, talvez um dia eu me torne uma daquelas figuras mitológicas que dizem andar pelas ruas das cidades cinzas, mas que ninguém nunca viu. No fundo sou só um cara normal, com Orkut e amigos pseudo-malucos. Nada demais. No fundo, somos todos normais, mesmo com a esquisitice em moda.


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Echo

sexta-feira, 10 de abril de 2009

O Mundo de Oz - Tomo II: Delirium - Cap. 1

.delirium

Cápitulo 1: Erased

A chuva teimava em cair, quando o pobre rapaz entrou pela porta com ar deprimido e com enorme vontade de cair em lágrimas. Trancou-se no quarto e olhou-se no espelho. Estava com raiva de si mesmo. Olhou pela janela. A chuva. A vida. Sentiu vontade de morrer, mas não tinha coragem suficiente para isso. Fez o que sabia fazer, caminhou até o fundo do quarto e sentou-se numa cadeira. Ficou lá, parado, olhando tudo que o cercava, como já havia feito antes, no futuro. O tempo passou, a noite podia ser vista caindo pela janela, junto com a incessante chuva. O rapaz ficou lá, olhando para tudo à sua volta, até que conseguisse olhar para dentro de si mesmo. Não suportou, morreu.

Uma túnica negra usada por formas femininas caminhava pelas areias escurecidas das Trevas. Parecia procurar por algo. Passou por entre as cruzes e apanhou uma foice que estava jogada no chão. Sentou-se num dos túmulos e esperou.

O homem com roupas quadriculadas em preto e branco e maquiagem de palhaço andava de modo apressado pelo salão, resmungando, indo até às prateleiras, pegando coisas, resmungando, colocando-as numa espécie de mesa no centro do salão e resmungando. Parou. Havia na mesa: um livro, um medalhão e um bastão com um “ankh” na ponta.
- Vamos, vamos! – resmungou. – Não é por que não existe tempo aqui que você vai me deixar esperando! Venha mestre! Preciso de você! Agora! – parou por um segundo – Ah! Quase me esqueço! – disse, apontando o indicador para cima.
Foi até outra prateleira e pegou uma esfera de vidro. Olhou com ar zombeteiro para as coisas e para a esfera e em seguida a jogou para o alto e a deixou espatifar-se contra a mesa, em muitos cacos de vidro.
- Ah, agora sim! Ah, se ela pudesse me ver agora! Hi hi! – disse, batendo palmas.
De repente, os cacos de vidro começaram a brilhar e juntaram-se no ar da mesma forma como se espalharam, como se um filme estivesse sendo rodado ao contrário. Ao juntar todos os cacos, a esfera reconstituída brilhou como nunca. O homem com maquiagem de palhaço e roupa quadriculada dava pulinhos de alegria.

O rapaz acordou. Sentiu frio. Estava deitado num chão de terra com as mãos sobre o peito. Levantou-se. Era um cemitério em meio à neblina e a escuridão, rompida somente pela enorme lua no céu. Viu a silhueta de uma garota com uma túnica e uma foice. Teve medo.
- M-morte? – gaguejou.
Ela virou-se. Era Cora, a companheira de Hades, o senhor das Trevas e dos mortos. Ela riu.
- Haha. Não, bobo! Sou eu! Ah, você não me reconhece, não é? Tudo bem... Não temos muito tempo e eu nem deveria estar aqui, mas preciso lhe dizer algo antes que você seja levado.
- Eu, eu... Levado por quem? Eu morri?
- Pela terceira vez. Nos conhecemos desde a primeira. Agora escute...
Ouviram um grunhido e avistaram um enorme pássaro negro se aproximando.
- Droga! O Corvo! Agora escute...
Mas antes que o rapaz pudesse por as idéias em ordem para ouvir o que Cora tinha a dizer, o enorme corpo o pegou com suas finas patas e o suspendeu no ar.
- Lembre-se: nada é o que parecer ser, mas ao mesmo tempo é! Quando vir um espelho... – gritou Cora lá debaixo, mas o rapaz já estava longe e extremamente assustado.
- Me... Me põe no chão! – gritou em desespero.
Para seu espanto, pode ouvir a resposta da ave:
- Quando chegar ao Poço, eu o soltarei, Oz.
- O quê? Um corvo gigante que fala? Que sonho maluco é esse?
- Você morreu. Não morreu? É para cá que vem toda vez que morre e para cada vez há uma instrução dada por você mesmo. Eu estou encarregado da terceira.
- O quê? Peraí? – tentou pensar o rapaz. – Eu mesmo criei essas situações malucas para cada vez que eu morresse? Que absurdo! Porque não me lembro de nada disso... E até onde sei, só se morre uma vez!
- Você não se lembra porque escolheu não lembrar. Seu passado e futuro são apagados toda vez que passa para esse lado. Só existe o presente! E quanto a morrer várias vezes? Creio que muitos escritores têm boas idéias quanto a isso! Eu pessoalmente gosto da idéia tralfamadoriana.
- O quê? Hein? Eu...
- Tempo esgotado, Oz. Lá está o Poço.
O rapaz deu uma olhada corajosa para baixo e viu um enorme e aparentemente bem fundo fosso no solo.
- Meu nome não é...
- Mande um “oi” para Ela por mim, ok? – disse o Corvo, já largando o rapaz para despencar dos céus e cair direto dentro do escuro poço.
O rapaz caiu e caiu no breu, até perder os sentidos.

Despertou. Estava de volta à cadeira em seu quarto. A chuva havia cessado. Uma luz forte de um sol brilhante e cinematográfico teimava em invadir seu ambiente lúgubre e deprimente. Havia uma garota loira vestindo um longo vestido branco à sua frente. Ele levantou-se.
- Aqui estamos nós de novo. – disse ela e em seguida caminhou para a porta. – Hora de brincar.
Abriu a porta, saiu e a fechou. Antes de tentar entender o que uma garota estava fazendo em seu quarto depois de um sonho estranho, ele foi até a porta e a abriu. Tinha fadas usando botas, porcos e robôs fazendo uma pequena festa na sala. Estavam dançando ao som da música que saía do aparelho de som. Uma das fadas se aproximou.
- Sabe o que eu gosto nessas festas? – ela disse – É que podemos curti-las como se não houvesse passado ou futuro. Tudo apagado de nossas vidas. Só existe o presente!
O rapaz parecia bem perdido. A fada pareceu não entender a perplexidade dele, mas então deu um sorriso, como alguém que se lembra de algo.
- Você é o Oz, não é?



:)

postado por The Oz às 19:05 |