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The Oz:

Um sonhador lúcido por natureza, eu caminho pelas ruas em constante devaneio. Olho a vida ao meu redor com os olhos de Will Eisner e a sensibilidade das histórias de Neil Gaiman. Alguém já me disse que sou o último dos românticos. De alma transparente, de coração ingênuo, calado e meio ermitão, talvez um dia eu me torne uma daquelas figuras mitológicas que dizem andar pelas ruas das cidades cinzas, mas que ninguém nunca viu. No fundo sou só um cara normal, com Orkut e amigos pseudo-malucos. Nada demais. No fundo, somos todos normais, mesmo com a esquisitice em moda.


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Echo

sábado, 6 de junho de 2009

O Mundo de Oz - Tomo II: Delirium - Cap. 3

.delirium

Capítulo 3: Opium

O rapaz caminhava inquieto pelos corredores daquele enorme e estranho palácio, enquanto o homem com roupas de pierrô ao seu lado não conseguia conter-se.
- Veja, por trás dessas portas está a Grande Sala da Criação! E descendo as escadas das Ilusões, encontrará o Arlequim, outro servo. Não gosto dele, sabe? Muito prepotente! Um estorvo entre eu e meu amor. Mas isso não lhe interessa, não é milorde? Olhe! O Salão das memórias! Onde estão guardados seus pertences: a pedra, o espelho, a espada, as cinzas do coração do Dragão Negro, a essência de Zo... Além dos Livros de Oz. Sabe? Aqueles... – disse com uma cara mais séria.
- Não, não sei. Que livros? Do Mágico de Oz?
O pierrô riu inocentemente e escandalosamente.
- Desculpe-me, mestre. Não pude me conter! Sempre me esqueço de suas brincadeiras... De qualquer forma, não poderemos ir até lá mesmo, porque teríamos que passar pelo...
Mas antes que completasse a frase, o rapaz já havia aberto a enorme porta e entrado.
- Senhor! Não! Volte! – disse o servo, correndo atrás de seu desmemoriado criador.
O rapaz estava parado, talvez com dúvidas, talvez com medo, diante do corredor. Era soturno e frio, com uma enorme porta vermelha do outro lado e com suas duas paredes preenchidas por dez espelhos, cinco de cada lado.
- O que são esses espelhos, Pedrolino? – perguntou.
- São as janelas de suas Dez Vidas. – respondeu, não muito animado.
- E... Como sei qual é a minha?
- Saberá. É só seguir para algum deles. Um deles o atrairá, e então...
O rapaz caminhou diretamente para o terceiro espelho à sua direita.
- Então o quê?
- Então se lembrará... – disse o pierrô, com cara triste.
O rapaz se aproximou do espelho e deu uma olhada em si mesmo. Parecia distorcido.
- Porque essa cara triste? Não é bom que eu me lembre de quem sou e de como cheguei aqui? Além do mais, este espelho está desfocado...
Mas o rapaz interrompeu a frase ao perceber que o foco parecia mudar e então sentiu algo, como uma longa e pesada punhalada em sua cabeça. Ficou parado por um tempo e então se afastou, caiu no chão e começou a chorar.
- Eu me lembro agora!

Cora entrou nos aposentos de Hades determinada, seguida pelo anjo negro da morte Mefitófeles. Carregava em uma das mãos o pequeno palácio esmeralda.
- Hades! Pode me dizer como isso veio parar aqui? Onde está o Chapeleiro? Quero falar com ele! Oz precisa de...
- Você? – cortou-lhe o senhor das Trevas.
- ...Ajuda. – disse Cora.
- Sabe quantos milênios de existência eu tenho, minha querida? Não me insulte! Tragam o Chapeleiro! – ordenou para um ser com formas de Gárgula. – Fique sabendo você, meu amor, que será impossível realizar o desejo que forma-se em seu interior. E não é somente porque você é minha, Atégina. Ele escolherá seu fim, como parte do acordo com a Trindade.
- Me deixe fora das armações entre você e seus irmãos, Hades. E eu não passaria meus Invernos aqui não fosse aquela fruta maldita! – enfureceu-se Cora.
Hades continuava inabalável.
- Eles a comem no Ano Novo pra trazer fortuna, sabia? Ele não é parte de nós, querida. Você sabe disso.
O Chapeleiro é trazido.
- Diga, Chapeleiro, quem lhe entregou este artefato. – disse a garota, estendendo-lhe os braços a segurar o mini-palácio. – Como pode um ser irreal de contos de fadas morrer e vir ao mundo de meu senhor com tal artefato que nem faz parte de sua história?
O Chapeleiro tentou-se manter-se de pé. Parecia bêbado e delirante.
- Ora, ora! Se não é a Lady Onix! Prazer! Prazer! – e curvou-se tirando o chapéu e voltando à sua postura original. – Foi Ela! Ela me fez parte da realidade do Perdido e me assassinou! Chá envenenado! E nem era com leite e limão! Que cortem minha cabeça! – gritou. – E sangue! Muito sangue! Tudo escuro, preto. Vermelho! Longas cortinas vermelhas! Chá de Lírio! Cogumelos! Hum... E quando o Corvo me pegou, o Anjo me deu esse brinquedo. Tentei barganhar com a ave em troca da resposta de meu problema matemático, mas ela me largou num barco cheio de gente morta! Bebemos muito no caminho, isso sim! Eram cinco horas, sabe? – e caiu no chão, exaurido.
- De quem ele está falando? – perguntou o anjo Mefistófeles. - Eu não dei nada a ele!
- Não foi você. – disse Hades, virando-se para a janela de onde avistava um dos lados de seu obscuro reino.
- Ele está falando de seus irmãos? – perguntou Cora.
- Sim. – disse Hades, com certo pesar na voz. – Ele está falando de Lúcifer e Mabi, o Anjo caído e a Rainha das Nixies.
- O Mal e a Ilusão. – refletiu a princesa das Trevas. – Me pergunto se o Escuro também não está por trás disto?
Mas Hades não respondeu. Ficou apenas olhando para o horizonte eternamente noturno, em silêncio.

O pierrô levou o rapaz em prantos de volta para a Biblioteca, de onde ele havia sido trazido.
- Desculpe-me novamente. Eu me esqueci de sua ordem para que nenhum de vocês fosse levado ao Mirante. Talvez você não saiba, mas não poderá ficar mais aqui depois disso. – disse o servo.
- Triste. Eu me sentia tão triste. Queria morrer...
- É, eu sei. E morreu. – Pedrolino puxou um dos livros da estante.
- Mas, eu... eu não lembro de ter me suicidado... Só de um desejo muito grande de não existir mais. – e continuou em prantos.
- Você não se suicidou. Só quis morrer e morreu. É complicado! Só o senhor pode explicar melhor ao senhor mesmo! Ouça. Vou contar uma história e tudo ficará bem. – disse, abrindo o livro em mãos.
- Pedrolino... Charles! Não sei se é uma boa hora... Que livros são esses?
- São todos seus! Agora escute... “Um homem grita de um dos quartos de um hospital psiquiátrico. A enfermeira chama por um médico no autofalante...”
Ouve-se ao fundo o som de uma música da banda Queenrÿche e uma espécie de energia sai do livro nas mãos do pierrô e vai em direção ao rapaz. Ele sente-se sonolento e pisca. Mas ao abrir os olhos não está mais no palácio.

Cora percebeu a estranha energia e o sumiço do rapaz no interior do mini-castelo enquanto rondava de um canto a outro de seu quarto nas Trevas e então tomou uma decisão.
- Mefis, nós temos que ir!
- Mas, milady... – assustou-se o anjo da morte.
- Eu não deixarei que o Mal ou a Ilusão o aprisionem! Vamos até os dez, até encontrar o Oz consciente! – e tirou um medalhão vermelho do meio de algumas roupas.
- O medalhão de Mordenkai! Mas como? – espantou-se o anjo negro.
- Isso não é certo! Você tem sua história... – tentou intervir sua boneca de pano.
- Veremos!
E então, após algumas palavras inteligíveis, o medalhão começou a brilhar e logo os três haviam se transformado em pó e desaparecido.

No Inferno, Damien parece caminhar com dificuldades diante de seu pai.
- Ainda assim, filho? Eu lhe avisei que quem brinca com gatos acaba arranhado. – disse o homem de aparência inebriante e sinistra, sentado numa espécie de trono feito de serpentes e ossos, com seus negros cabelos compridos e um olhar fumegante.
- Eu perderia a chance de você ficar me zombando, pai? Não se preocupe, de agora em diante gatos são meus inimigos, com pena de morte quando na minha presença! Vim para informa-lhe que o medalhão de Mordenkai apareceu em minhas mãos. Quer dizer que foi usado. Sabemos por quem.
- Eu já sabia. Agora é deixar nas mãos de minha querida irmã. Todos estão se intoxicando pelo nosso ópio e logo estarão adormecidos e debilitados!

O rapaz estava num hospital. Piscou e viu-se numa espécie de culto de alguma ordem secreta. Piscou novamente, incrédulo, e então estava num bar. Um velho conversava com um homem sobre televisão, telefone e ruivas. O homem foi embora e o velho aproximou-se do rapaz. Era calvo e usava óculos. Parecia-se com ele mesmo, só que mais velho.
- Já leu “O Homem de Vidro”? – disse o velho, levantando um livro no ar e mostrando ao rapaz. Mas antes que ele pudesse dizer alguma coisa, piscou novamente foi parar numa espécie de vilarejo japonês, decadente e meio destruído. Sentiu o corpo adormecido e percebeu que estava no ar, em fila com um garoto, um homem de meia-idade, um jovem e um velho. Os cincos haviam sido atravessados por uma lança, empunhada por um demônio. Os cinco caíram mortos no chão, queimaram e viraram cinzas.

Acordei deitado num reluzente gramado de um verde quase irreal. Estava no alto de uma montanha. Levantei-me e não conseguia me lembrar de nada. Nem de quem eu era. Fui mais adiante para descobrir onde estava e logo minha mente foi atormentada por visões extremamente irreais para mim. A paisagem quase campestre e antiga estava permeada por uma estranha cidade ao longe (parecia uma cidade de contos de fadas), além de enormes gatos alados no ar e estranhos seres lá embaixo, próximos a uma espécie de lago com uma ilhota e uma estranha pedra fincada nela. Senti-me entorpecido e logo constatei que deveria estar sonhando.
- Um sonho. – resmunguei para mim mesmo.
- Tem certeza disso? – ouvi atrás de mim. Virei para ver quem era e vi uma garota magra, extremamente pálida, com cabelos acima dos ombros e roupa preta. Ela estava encostada numa enorme pedra fincada no chão, parecida com àquela lá embaixo, na ilhota.
- Olá, Oz. Você não se lembra de mim, eu nome é Cora – ela disse – Agora só falta acordar a loirinha dos delírios pra acabar com essa história!



*muito grande, eu sei. fazer o q... rs
:)

postado por The Oz às 18:06 |