ImageHost.org

The Oz:

Um sonhador lúcido por natureza, eu caminho pelas ruas em constante devaneio. Olho a vida ao meu redor com os olhos de Will Eisner e a sensibilidade das histórias de Neil Gaiman. Alguém já me disse que sou o último dos românticos. De alma transparente, de coração ingênuo, calado e meio ermitão, talvez um dia eu me torne uma daquelas figuras mitológicas que dizem andar pelas ruas das cidades cinzas, mas que ninguém nunca viu. No fundo sou só um cara normal, com Orkut e amigos pseudo-malucos. Nada demais. No fundo, somos todos normais, mesmo com a esquisitice em moda.


arquivos


blogs amigos

Designer na Pista
Blog da Bispo
Bqvrd
Tanto-faz
Guilherme Montana
Pseudologia Fantástica
Mult Pass
A Frase do Dia É
Acetoso
Nathíssima
Felim Propano
Subversiva

créditos

Powered by Blogger

Echo

quinta-feira, 14 de julho de 2011

O Mundo de Oz - Tomo III: Dunkelheit - Cáp. 4 de 4

DUNKELHEIT
O Último dos Livros de Oz

Capítulo 4 – Under The Sun

Sob a sombra de uma velha árvore com parcas folhas vermelhas, eu procurava por uma caixa, enterrada naquele chão de terra úmida e escura, quase preta. O céu de uma cor laranja forte e brilhante me deixava perdido no tempo. Estava frio, muito frio. Depois de cavar com as mãos como quem procura por água num deserto, encontrei a pequena caixa de madeira. Sem a chave, tive que batê-la na árvore, arrancando-lhe uma lasca e abrindo a caixa. Logo algo saltou de dentro e caiu no chão. Era um livro antigo, com capas de couro e um estranho símbolo cóptico desenhado. Dentro, estava todo preenchido com estranhas letras que eu desconhecia. Parecia um diário ou algo assim. Então, ouvi um barulho... Olhei para o céu laranja e aos poucos fui percebendo que algo aproximava-se. Algo parecido com uma ave. Logo seus olhos flamejantes tornaram-se evidentes e quando me dei conta, uma enorme ave estava pousando diante de mim. Tinha quase o meu tamanho e penas compridas, também em tons de cor laranja. Lembrei-me dos desenhos que já vi de uma Fênix. E então não era mais uma ave, mas uma mulher. Nua, com longos cabelos ruivos e olhos flamejantes. Senti o calor dentro de mim e então ela tornou-se fogo! Era uma enorme chama que começou a consumir tudo em volta. A árvore, a caixa, o livro em minha mão e eu. Não senti dor. Acordei.

Depois de uma semana comum de trabalho, visitar meus filhos no final de semana e passar aquela tarde com minha mulher, o dia ainda parecia longe de terminar. Faltava algo, eu sentia. Sob a luz da luminária, imerso num turbilhão de músicas do passado e do presente, abri o livro que Hades havia me dado, com um ankh na capa e páginas em branco. Sonhei o final de uma história que seria o começo de outra e a transformei em tinta sobre aquelas folhas em branco.

Ele caminhava pela planície deserta como quem passeia na praia com os pés descalços, sentindo cada onda bater nas canelas. Vestia uma estranha roupa preta com um manto vermelho sobre um dos ombros. Sentia-se rei de um mundo que achava ter criado. Um mundo deserto, onde apenas um palácio de vidro verde fosco, sujo e escurecido pelos anos impunha-se sobre o nada. Enquanto caminhava para longe do palácio, lembrou-se de histórias que não eram mais suas, com personagens tirados de outras histórias, com trechos que lembravam muito um plágio mal feito. Afinal, seu próprio nome parecia um plágio de um homem perdido num mundo mágico, mas sem o conhecimento de nada além da arte de criar ilusões. Lembrou-se da Ilusão. Então parou de andar.
Com toda uma calma, agachou-se e apanhou um punhado de areia do chão. Sentiu uma brisa e então ficou de pé novamente. Olhou de onde o vento vinha e caminhou em sentido contrário, sentindo o ar soprar cada vez mais forte contra seu rosto. Quase não suportava mais andar de tão forte que era o vento, quando de repente tudo ficou calmo. Olhou em volta e viu uma fina e curva parede de vento. Pegou o que sobrou do punhado de areia que ainda estava em sua mão e jogou contra o vento. A areia espalhada circulou pelo vento e, estranhamente, começou a aumentar de volume e juntar-se, conforme ia girando em volta do rei do nada. Logo, uma imagem foi se formando em meio a areia e, como por mágica, foi tomando a forma de uma mulher. O pequeno mago deu um breve sorriso.
Da parede circular de vento saiu uma mulher de cabelos loiros e longo vestido branco. Era Mabi, a rainha da ilusão, a quem o mago havia transformado em nada já havia algum tempo. Ela sorriu.
- Olá, Oz. – ela disse – Não conseguiu viver sem mim?
O pequeno mago limitou-se ao silêncio e um breve sorriso em um dos cantos da boca.

Cora voltava de uma longa noite ao som de Poisonblack, After Forever e Pain of Salvation, muito vinho e outras bebidas destiladas, com nomes criativos que ela preferia ignorar, e uma frustrante tentativa de preencher seu vazio interior com conversas com seus amigos sobre filmes de vampiros, sexo e a futilidade da vida capitalista do ser humano. O álcool ainda tornava sua visão turva enquanto ela se ajeitava no ônibus a caminho de casa. Ela tentava ignorar - ou parecer que ignorava – as pessoas em volta, que provavelmente estavam a caminho do trabalho naquela manhã fria e chuvosa e pareciam ter pena daquela garota vestida de preto e uma mecha colorida no cabelo.
Sentou num banco próximo à janela, tentou por fones de ouvido e ouvir alguma música, mas o celular estava com a bateria descarregada. Ficou olhando a chuva pela janela. Tudo lá fora passando num borrão embaçado. Adormeceu.

Algo em Cora não deu importância ao fato de estar deitada sobre uma sepultura, num sombrio e nublado cemitério. Porém, seus olhos rapidamente trouxeram a lógica à tona ao abrirem-se, fazendo com que ela ficasse um pouco assustada. Ainda mais com o que parecia ser um estranho gato cinza fitando-a empoleirado numa lápide. Percebeu logo que se tratava de um sonho.
- Um sonho com Sandman ou sou Alice no País das Maravilhas? – disse para si mesma.
- Nem um, nem outro. – disse uma voz sombria em meio à neblina.
Cora levantou-se para olhar melhor entre a neblina e ficou sem saber quem era aquele homem estranho que se aproximava, magro, careca, com aparência funesta e uma espécie de cajado na mão, com um castiçal na ponta superior, uma veste vermelha escura e um estranho medalhão.
- É um prazer tê-la de volta, milady. Eu sou Mordenkainen, o demônio. Vim buscar-lhe para que encontre vosso amo.
- Não tão rápido, demônio. – disse alguma voz feminina antes que Cora pudesse entender o que estava acontecendo.
O demônio e a garota olharam para a lápide onde estava prostrado o gato. Ele calmamente lambeu uma das patas e olhou fixamente para os olhos de Cora e Mordenkainen. Ambos fitaram seus olhos no olho do gato e, quando conseguiram desviar o olhar novamente, estavam diante de uma mulher, alta, loira e vestida com uma roupa branca – apesar de parecer que havia algo não tão branco naquele tom de branco, mas que era difícil de dizer o que realmente Havaí de errado com aquele branco. Era Mabi, a rainha da ilusão.
- Maldita Ilusão! – praguejou o demônio – Achei que o mago tinha destruído você!
- Não se destrói uma lenda, lacaio. Volte para o Escuro e diga-lhe que esteja pronto para brincar, pois vou começar um jogo aqui.
E, com raiva e a contragosto, Mordenkainen sumiu entre a névoa.
- Que sonho louco é esse? – perguntou-se Cora.
- Como diria um amigo meu... – disse Mabi, virando-se para ela e estendendo-lhe as mãos, como quem faz gesto para um número mágico – “É o seu sonho dos sonhos”.
Cora sentiu uma brisa e piscou. Mas quando abriu os olhos, não estava mais no sombrio cemitério, e sim numa espécie de deserto. Tudo em volta tinha uma cor amarelada em tons pastéis. Percebeu que havia algo em sua mão. Era uma carta. Leu e, antes que sua mente tenta-se fazê-la acordar, colocou a carta no bolso, escolheu um lado e começou a caminhar. Na carta estava escrito o seguinte:

“Olá, antes de perguntar-se que tipo de sonho maluco é esse, devo dizer que você faz parte de uma história. Algumas vezes, enquanto estiver dentro desse sonho, lembrará disso. Na maioria das vezes, não.
Como todo personagem de uma história, há uma jornada esperando por você, a qual você terá de trilhar, conforme lhe for conveniente, mas também estará sujeita às conseqüências e terá que lidar e conviver com outros personagens dessa história. Poderá acordar ao final de cada sonho e no final do dia, quando dormir, estará de volta à história.
Cuidado! Suas angústias e medos, tanto quantos seus desejos, não ficarão escondidos e poderão ser usados contra você! Mas se souber lidar com os elementos da história, os problemas serão facilmente contornados.
Sua jornada aqui não envolve busca por tesouros ou coisas mágicas. Sua jornada é necessária para que garanta sua existência. Sem jornada, você deixará de existir, e esse mundo desaparecerá.
Aliás, este mundo já foi de outra personagem, criado por mim com nome emprestado de outro personagem. Você ouvirá o nome dele vez ou outra. O chamam de Oz e, após construir e destruir esse mundo mais de mil vezes, ele resolveu abandoná-lo de desaparecer. Alguns dizem que este “mago” vaga por este mundo de sonhos e que apesar dele parecer abandonado, está em constante re-construção.
Mas não prenda-se a histórias de outros personagens. São somente histórias. São somente personagens. Tudo é somente sonho.
Este sonho é seu e esta é a sua história.
Comece sua jornada, e tenha bons sonhos.”

...



...

postado por The Oz às 15:21 |