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The Oz:

Um sonhador lúcido por natureza, eu caminho pelas ruas em constante devaneio. Olho a vida ao meu redor com os olhos de Will Eisner e a sensibilidade das histórias de Neil Gaiman. Alguém já me disse que sou o último dos românticos. De alma transparente, de coração ingênuo, calado e meio ermitão, talvez um dia eu me torne uma daquelas figuras mitológicas que dizem andar pelas ruas das cidades cinzas, mas que ninguém nunca viu. No fundo sou só um cara normal, com Orkut e amigos pseudo-malucos. Nada demais. No fundo, somos todos normais, mesmo com a esquisitice em moda.



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Echo

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Lamentos e Tormentos

Existem dois tempos dos quais eu realmente sinto falta:

O primeiro é de quando tinha meus 12, 13 anos. Morava em Araraquara, interior de São Paulo, e eu pai era dono de uma banca de jornais e revistas na rodoviária da cidade. Sendo assim, meu dia era levantar cedo, pegar o tróleibus para o centro e passar a manhã na escola, não prestando a mínima atenção nas aulas e desenhando tiras sem noção que colocavam professores e alunos em situações absurdas (eu ainda não havia descoberto o Monty Python) - infelizmente todas elas perdidas. Um dia ainda conto dos meus tempos de escola... Depois das aulas, voltava para casa, almoçava e seguia para a banca, onde eu trabalhava no lugar da minha mãe - que ficava em casa cuidando do meu irmão pequeno - até à noite, quando meu pai chegava do trabalho dele par fechar. Eu passava o dia lendo quadrinhos, vendo revista de mulher pelada escondido e tentando copiar os desenhos dos gibis a olho.
Em casa, eu raramente ia dormir cedo. Ficava até altas horas desenhando e inventando histórias e personagens para fazer minhas HQs quando eu aprendesse a desenhar melhor. Infelimente, com a mudança de volta para o ABC Paulista tudo isso foi por água a baixo. Outro dia conto essa história também.

O segundo tempo do qual sinto falta é o de quando tinha 16 anos. Eu trabalhava de aprendiz de eletricista de manutenção (leia-se "peão") numa indústria química e fazia o colégio à noite. Os tempos já eram turbulentos, porque eu havia repetido o segundo ano técnico por relaxo e pelo meu "primeiro amor" (outra história...) e agora estudava no colégio "normal". Além disso, eu não queria mais saber do modelo "emprego bom em empresa boa" que meu pai havia conseguido pra mim. Só que eu não tava nem aí! Eu enrolava no trabalho e na escola e ficava contando os dias para o final de semana. Sábados eu passava na galeria, com meus cabelos grandes e rebeldes, todo de preto, escolhendo LPs (1993, gente!) pra comprar com parte do meu salário e tentando não encontrar nenhum punk ou careca pelo caminho. Ia pra casa, ficava lá, viajando nas músicas e rabiscando coisa ou outra (desenhos parcos, poemas ingênuos e sem sentido, possíveis letras de músicas...). Depois à noite ia para os botecos de roqueiros beber e sacudir a cabeleira até de manhã - botecos esses que deixariam Bob Cuspe com inveja e a geração de pseudo-rebeldes de hoje com vontade de ouvir Britney Spears!

A nostalgia e a falta desses momentos sempre me pesam nos finais de ano. Não que eu queira "voltar àqueles tempos", como muitas pessoas ao meu redor acham. O que me falta é aquele "espírito", se podemos chamar assim. Eu era o pária, o esquisito, o nerd, mas isso não me deprimia. Na verdade eu nem ligava. Eu era quem eu era e pronto! Foda-se o resto! Eu fazia o que tinha vontade de fazer, dizia o que queria e seguia minha vida... Não ficava me lamentando, nem usava desculpas como falta de dinheiro, responsabilidades, idade, blá, blá, blá...
Eu não tinha namorada, mas também não perdia os cabelos por causa disso. Não tinha dinheiro, e não me lamentava. Tinha que trabalhar, fazer coisas que não gostava, mas no final do dia ou no final de semana, eu tinha meu mundo me esperando, e isso mantinha o sorriso no meu rosto.
O que quero hoje, o que busco, é esquecer esses dias deprimentes, os tormentos que me enlouquecem, e tentar encontrar aquele sentimento, aquela alma, aquele Flávio perdido. Só quero que lá na frente, eu possa dizer que houve três tempos dos quais sinto falta. E que um deles seja da casa dos 30 anos.
Me apegar às coisas que eu gosto e que me fazem bem, sem esquecer das minhas responsabilidades e esquecer de todo o resto. Todo o resto!
Essa é minha única meta!

postado por The Oz às 10:32