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The Oz:

Um sonhador lúcido por natureza, eu caminho pelas ruas em constante devaneio. Olho a vida ao meu redor com os olhos de Will Eisner e a sensibilidade das histórias de Neil Gaiman. Alguém já me disse que sou o último dos românticos. De alma transparente, de coração ingênuo, calado e meio ermitão, talvez um dia eu me torne uma daquelas figuras mitológicas que dizem andar pelas ruas das cidades cinzas, mas que ninguém nunca viu. No fundo sou só um cara normal, com Orkut e amigos pseudo-malucos. Nada demais. No fundo, somos todos normais, mesmo com a esquisitice em moda.



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Echo

segunda-feira, 24 de março de 2008

A Caixa das Coisas Mortas

Cora chegou em casa com uma melancolia que havia adquirido na rua ou no trabalho - não tinha certeza - como quem pega um resfriado. Jogou sua bolsa e blusas no sofá, fez sua ronda humana pela pequena kitnet e então parou diante da janela e contemplou a enorme e sombria lua, como a tempo não via numa cidade tão coberta por nuvens negras. Sentiu o luar entrar em sua alma e a melancolia espremer seu coração como uma mão espreme uma banana. Quase podia sentir sua felicidade viscosa escorrer pelos dedos.
Lembrou-se da caixa e foi até a cama, ajoelhando-se e puxando-a lá debaixo. Parecia uma simples caixa de papelão, mas era na verdade sua Caixa de Coisas Mortas. Abriu a caixa e logo pode sentir a brisa do Hades. Tirou de dentro alguns discos velhos, alguns livros, fotos, cartas e outras bugigangas. E então tirou ela. A boneca de pano.
Ficou alguns minutos que pareciam horas simplesmente sentada no chão, encostada na parede, deixando-se morrer, assassinada pelos pensamentos melancólicos que trouxera de fora. Foi então quando decidiu voltar de onde havia sido resgatada e, com uma bela faca de carne pega na cozinha, fez do chão um mar de sangue e ficou olhando a lua, até tudo escurecer.
Mas a escuridão foi breve e logo ouviu alguém chamar. Era voz de uma menina. Olhou para os lados e a viu, a boneca de pano, em pé e lhe dizendo numa voz sombria e triste:
- Muito tempo. Mas achei que não nos veríamos mais.
Cora não sabia se estava morta ou se a boneca de pano havia adquirido vida.
- Por quê? - perguntou Cora ensangüentada.
- De que adianta filosofia e resposta aos mortos?
As duas ficaram em silêncio, admirando aquela lua iluminada, tão difícil de se ver numa cidade coberta por nuvens negras.

postado por The Oz às 12:17