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The Oz:

Um sonhador lúcido por natureza, eu caminho pelas ruas em constante devaneio. Olho a vida ao meu redor com os olhos de Will Eisner e a sensibilidade das histórias de Neil Gaiman. Alguém já me disse que sou o último dos românticos. De alma transparente, de coração ingênuo, calado e meio ermitão, talvez um dia eu me torne uma daquelas figuras mitológicas que dizem andar pelas ruas das cidades cinzas, mas que ninguém nunca viu. No fundo sou só um cara normal, com Orkut e amigos pseudo-malucos. Nada demais. No fundo, somos todos normais, mesmo com a esquisitice em moda.



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Echo

terça-feira, 8 de abril de 2008

What a Wonderful World...




Em 1968, Juvenal Starlight tomou uma decisão que sua família e amigos acharam no mínimo radical: foi para as montanhas viver numa casa velha, viver do que plantava e nada mais. Havia tomado essa decisão depois de muito pensar sobre o mundo em que estava vivendo. Membro de uma comunidade hippie até então, estava farto e desapontado com o que via à sua volta. Países poderosos se metendo em guerras alheias por interesse econômico e político, pessoas passando fome enquanto outras falavam das maravilhas do mundo moderno que podiam comprar, a busca incessante pelo sucesso financeiro, a busca incessante pela paz espiritual associada ao sucesso financeiro, a má educação e falta de senso ético e moral das pessoas, a incompetência administrativa do governo que sempre beneficiava poucos (eles mesmos) e enganava muitos com planos sociais capengas, o delírio geral alimentado pelo ópio que era a mídia... Juvenal realmente estava determinado a se isolar e só sair quando o mundo estivesse melhor. Então, depois de se despedir da família e dos amigos, pegou suas coisas e foi pro mato.
Alguns meses atrás, seu sossego foi interrompido por um grupo de jovens que faziam caminhada perto de sua cabana. Apesar de ficar meio arredio e avesso a interações sociais, Juvenal Starlight acabou sendo hospitaleiro com o pessoal, que caminhavam já a várias horas para chegar numa cachoeira que eles tinham visto numa revista de turismo. Depois de conversar um pouco com os jovens, Juvenal pensou se já não era hora de voltar à civilização. Eles haviam lhe dito que o mundo estava muito melhor hoje, com menos desigualdade, renda elevada, baixo nível de analfabetismo, grandes potências em crise e países emergentes em ascensão, que as pessoas estavam muito mais conscientes e com opinião própria, que finalmente todos estavam falando sobre o meio ambiente, aquecimento global, desenvolvimento sustentável, etc.
Depois que o grupo foi embora, Juvenal pensou por alguns meses e então decidiu: voltaria a viver em sociedade! Arrumou suas coisas, deu uma última olhada na cabana, tomou um banho, amarrou o cabelo, aparou a barba e desceu montanha abaixo! Pegou a estrada asfaltada (que antes era de terra) e logo chegou a uma pequena cidade. Logo na primeira rua, deu de cara com um boteco da periferia, onde um grupo tomava cerveja e o som de uma música estranha com batida intermitente e letras obscenas dividia espaço com uma televisão colorida.
A princípio se maravilhou com aquilo: uma tv bem menor do que as que conhecia e ainda por cima a cores! Mas logo o sorriso em seu rosto começou a sumir... Viu o jornal mostrando os tibetanos tentando apagar a tocha olímpica, pois as Olímpiadas seriam na China; viu sobre um atentado a bomba no Iraque a um grupo de soldados americanos, viu a marginal do rio Tietê lotada de lixo e de carros que não andavam nem um metro; viu as pessoas se acotovelando para entrar nos trens em horário de pico; viu uma mulher linda e burra mostrando sua nova cobertura que havia comprado com o dinheiro que ganhou num programa de tv; viu sobre a epidemia de uma tal de dengue no Rio de Janeiro; viu sobre os shoppings lotados por causa da facilidade de crédito; viu sobre os maior número de pessoas com diploma superior e crianças do ensino médio que não sabem ler e escrever direito; viu que o presidente estava comentando sobre a derrota de seu time de futebol em meio a uma entrevista sobre uns cartões que o governo gastou como não devia; viu sobre criminosos atacando policias e arrastando crianças presas na porta do carro até a morte; viu a vida perfeita que mostravam nas novelas; viu programas explorando a miséria financeira e cultural do povo; viu uma igreja na tv pedindo doações do "tamanho de sua fé"; e viu que nada havia mudado em 40 anos. Na verdade, parecia que havia piorado, apesar de aparentemente parecer ter melhorado...
Então, em silêncio e triste, Juvenal Starlight juntou suas coisas e voltou para a cabana nas montanhas, onde continua vivendo, sem saber que uma construtora está planejando construir ali um belíssimo condomínio de chácaras, com 1.000 m2 cada, para aqueles que querem fugir do estresse da vida na cidade!

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ah, reparou q o blog tá meio diferente? é, eu tô mudando o lay-out aos poucos...

postado por The Oz às 10:57