ImageHost.org

The Oz:

Um sonhador lúcido por natureza, eu caminho pelas ruas em constante devaneio. Olho a vida ao meu redor com os olhos de Will Eisner e a sensibilidade das histórias de Neil Gaiman. Alguém já me disse que sou o último dos românticos. De alma transparente, de coração ingênuo, calado e meio ermitão, talvez um dia eu me torne uma daquelas figuras mitológicas que dizem andar pelas ruas das cidades cinzas, mas que ninguém nunca viu. No fundo sou só um cara normal, com Orkut e amigos pseudo-malucos. Nada demais. No fundo, somos todos normais, mesmo com a esquisitice em moda.



blogs amigos

Designer na Pista
Blog da Bispo
Bqvrd
Tanto-faz
Guilherme Montana
Pseudologia Fantástica
Mult Pass
A Frase do Dia É
Acetoso
Nathíssima
Felim Propano
Subversiva

créditos

Powered by Blogger

Echo

sábado, 1 de agosto de 2009

O Mundo de Oz - Tomo II: Delirium - Cap. 4

tanto tempo sem escrever pra fazer um post enorme que me consumiu tempo, sentimentos e sanidade.

.delirium

Capítulo 4: Beyond Me

A boneca de pano estranhou o vilarejo japonês em ruínas tanto quanto Mefistófeles, o anjo das Trevas, mas Cora parecia saber exatamente onde estava. E também que estava sem o medalhão de Agat.
- Não acredito! Estamos no Limbo! O medalhão nos tirou do Reino dos Mortos! – animou-se a rainha de Hades.
- Você tem certeza disso? – disse uma voz feminina.
Cora se virou e a viu, vestida de branco como sempre e com seus intermináveis cachos dourados.
- Mabi, a rainha das Ninfas e da ilusão.
- Delírio. – sussurrou Mefistófeles.
- Oi! – disse Mabi, estendendo uma das mãos – E tchau! – disse, abaixando a mão e fazendo com que a visão de seus visitantes ficasse turva e indefinida.
Cora só consegue piscar e ao abrir os olhos, não está mais lá.

Quando abriu os olhos, Cora, o anjo negro e a boneca de pano estavam dentro do palácio esmeralda diminuto, diante do pobre pierrô.
- Mas? Quem são vocês? – indagou o velho em seu pijama quadriculado.
Antes que um dos três tentasse dizer, o Arlequim o fez, surgindo quase do nada, numa das portas.
- São convidados do mestre, meu querido amigo e quase irmão! E ele os aguarda em seu salão.
- Ele está aqui? Mas...
- Veio por um dos espelhos agora a pouco e pediu para que viesse chamar por vocês.
O Arlequim fez sinal para que eles fossem na frente, passando pelas portas e corredores até chegar ao salão principal.
- Charles – disse alguém que estava na janela, à meia-luz - leve a boneca para o cemitério do Escuro. Preciso conversar com Cora e o anjo. E me tragam aquelas coisas que estão na Sala de Ferramentas, ok?
- Sim, senhor! – disse o pierrô, levando a boneca e o Arlequim junto.
- Oz? – perguntou Cora.
Ele virou-se. Não era ele. Era eu.
- Você sabe que sim... e não.
- Confuso como sempre. – foi o que ela disse. – Você ainda me parece o Oz.
- Nós raramente temos uma aparência verdadeira em sonhos – eu disse .– Olha, eu sei por que você está aqui. Mas você sabe?
- Por que você não quer mais acordar e se ver transformado numa barata?
Tudo que pude fazer foi sorrir.
- Preciso que vocês façam algumas coisas por mim. Preencham algumas lacunas e me ajudem a lidar com Mabi, a Ilusão.
- Isso já tá parecendo novela! – disse o Arlequim, que acabava de voltar para a sala com os artefatos que eu pedi. – Música é melhor que novela.
- Nada melhor do que assistir um filminho comendo batata frita! – exclamou Pedrolino, o pierrô.
- Mesmo com todo seu poder dentro de um mundo de sonhos, é um defeito do homem não poder escolher seu destino. Ele pode apenas escolher como reagirá quando o chamado do destino vier. Esperando que terá a coragem para responder a altura. Só descendo ao fundo do poço é que a gente recupera os tesouros da vida. Algumas pessoas morrem e nem ao menos percebem. Eu não só percebo minhas mortes em vida, como não as suporto. Mas algo está diferente. Você está me fazendo ter vontade de viver e melhorar, novamente!
- Você está me dizendo que você criou tudo isso e todas essas mortes só para vir até o Hades? Mas...
- É preciso morrer e renascer, quando a vida que temos já não nos serve mais. – eu disse, estupidamente. – Não é esse o significado do renascimento?
- Eu... – ela hesitou. Sabia. Isso sempre acontece. – Eu pertenço a Hades...
- Ninguém é dono de ninguém.
- Gosto quando você fica meio doido. Parece que é você mesmo. Quando tenta ser certinho fica muito deprê e nada dá certo. Acredite, eu sei como é isso. Mas é mais fácil falar do que fazer! Nós nem pertencemos ao mesmo mundo...
- Eu sempre estive louco, eu sei que eu estive louco, como a maioria de nós... muito duro explicar por que você está louco, até mesmo,se você não está louco... – foi a besteira que saiu da minha boca. – Nem tudo funciona certinho. É preciso quebrar as regras e dar umas pancadinhas de vez em quando... Mas tem que saber onde e como bater. – concluí, pensando em mudar de assunto.
Cora estava pensativa. Medo.
- Eu faço o que tiver que fazer. Já sei qual é meu fim mesmo... Quero te ajudar, mesmo que isso não seja permitido.
Fiquei feliz e angustiado. Sei o que terei que fazer depois... Entreguei-lhes os artefatos. Dei-lhe o colar.
- É um ankh. É um símbolo da vida e do seu ciclo. Um símbolo da ressurreição dos mortos. Ele te trará de volta.
- Boa noite, sonhador. – ela disse.
Pegou as instruções com meus ajudantes, me deu um beijo e foi-se através do espelho. Eu chorei.

Mefistófeles, numa forma humana, aproxima-se do embriagado Oz num bar de Hell City e entrega-lhe o cartão que Cora pediu para que ele o fizesse.
- Aqui. Ele vai entrar em sua mente e retirar de lá o que você precisa.

Mabi, incorporada na princesa vestida de branco de História Sem Fim, disse a Oz que seu mundo seria engolido pelo Nada antes que ele sumisse. Cora não chegou a tempo para interferir. Ela também não conseguiu chegar antes que Mabi se passasse pela versão criança da Princesa e pedir para que ele a amasse quando Oz se deparou com suas dezenas de cópias com defeito. Ma conseguiu puxá-lo do meio de suas cópias e tirá-lo dali a tempo!
- Vem roqueiro maluquinho! Hora de começar sua última saga...
Mais tarde ele tentou saber quem era aquela garotinha branquela, mas ela sabia que não poderia dizer.
- Como você sabe que esses pensamentos insanos estão apenas começando? E como leu meus pensamentos?
- Ah, isso não importa. Não agora. E eu não te salvei. Só você pode se salvar.
- Você sabe de muitas coisas.
- Sei que você tem que aprender a fazer o que quer e ser dono de sua vida. Senão você irá se sentir morto e você pode se recuperar, ressuscitar. Mas não o tempo todo. Você não é eterno como eu! E eu ainda vou te tirar de uma fria de novo! – e empurrou ele por uma das portas do corredor onde estavam.
Ela o salvou de novo, só que ele achou que ela fosse a Morte, outro personagem da ficção.
- Que irônico. Salvo pela Morte.
Ela nada disse sobre isso. Somente o que os palhaços pediram que ela dissesse.
- Você ficou muito tempo esperando que você aparecesse que esqueceu quem era você!
Depois o levou para ver a possível versão mais velha dele sabendo que aquele velho era Mabi. Limitou-se a fazer o que tinha que fazer e dizer ao perdido Oz que somente o presente existia e que ele tinha que parar de perder tempo procurando a si mesmo. E sumiu.
Cora agora estava num hotel escrevendo num espelho: “Aplicai os vossos corações aos vossos caminhos”.
Depois ela já estava presente numa das 9 ressurreições do jovem mago de sonhos. Reconheceu Mabi na pele de uma estranha e sedutora dona de um apartamento simples num bairro afastado, mas nada fez. Cumpriu seu papel colocando o perdido Flávio na frente do Espelho que Pedrolino havia lhe dado para que Oz despertasse e deixou-se ser morta por Lúcifer e seus demônios. Chorou, depois, quando soube que a morte de Mefistófeles não havia sido uma ilusão, pois o anjo havia sido atravessado pelo cedro do Rei dos Demônios, mesmo fingindo ser seu irmão Aladiah.
Ela teve que usar o ankh do mago quando o encontrou num de seus sonhos, num apartamento que ele tirou de uma revista em quadrinhos.
- Você não é o Tim. – ela disse. E também disse: - Enquanto continuar tentando se encaixar numa vida que não é a sua, vai continuar passando por isso...
Cora estava no quarto quando Flávio acordou de sonhos intranqüilos achando que havia se tornado uma barata. Ela não soube na hora porque estava ali. Não havia nada para ela fazer ou dizer naquele momento. Depois, percebeu que ele sabia o que ela estava sentindo e decidiu compartilhar algo muito pessoal com ela.
Ela também pode assistir quando F. foi processado por não ser feliz e ameaçado a ficar confinado numa vida cheia de angústia. Também estava no pequeno e velho cinema assistindo o mesmo filme que F. teve que ver. Foi quando ela descobriu que a sua morte o mudaria para sempre. Mas ela continuou fazendo o que havia prometido e lá estava em outro lugar:
- E às vezes chora por estar perdido e sozinho? – ela disse. – Sonhos só se tornam cinzas se você deixar que os queimem. Ou se você os queimá-los.
Ela estava numa loja, ele olhando um cartaz com a capa do primeiro disco do Black Sabbath, com a mulher vestida de preto na capa. Cora achou que ele a havia reconhecido, mas não era isso. Ela sabia o que era. E pensou por um momento se não deveria aproveitar aquele momento para tirar aquele aperto do coração! Mas ele já havia partido, correndo atrás do velho com o livro “O Homem de Plástico” na mão. Obra de Mabi.
Ela o encontrou novamente numa espécie de clínica psiquiátrica. Ele tentou falar com ela sobre o que havia sentido desde que a viu da outra vez, mas ela desconversou.
- Me sinto estranho quando você está perto...
- Precisa ser você mesmo. Prefiro assim. Tente ouvir a si mesmo, pensar no que você mais gosta de fazer e no que você mais teme.
- Por que você perde tempo comigo?
Ela deu uma resposta evasiva antes de sumir de novo. Chorou por um bom tempo antes de entregar os espelhos para as cinco idades de Oz quando eles se reuniram para que Mordenkai os matassem (ou achasse que o teria feito). Ela já não estava mais empolgada com a idéia de ajudar o mago quando ele a chamou novamente de Morte.
- É só uma palavra... Levante-se. É hora do fim.

Cora não teve tempo de se despedir ou mesmo de ver Oz na caverna de Hades. Estava no cemitério das Trevas, lugar por onde chega e de onde parte. A boneca de pano estava lá, sobre seu túmulo. Estava sangrando. Então veio a luz e ela sabia. Estava partindo da terra dos mortos. Acordou na cama de um hospital, com a mãe aflita ao seu lado, perguntando por que ela fazia aquilo? Ela não se lembrava mais de quem era. Estava viva.

A garota que um dia foi Cora conseguiu viver por algum tempo, mas aos poucos os motivos que a levaram a querer morrer voltaram a assombrá-la e, num dia chuvoso, dentro de seu quarto, ela puxou a Caixa de Coisas Mortas debaixo da cama, pôs no colo e a abriu, sentindo a brisa que a chamava. Chorou por cada coisa que estava lá dentro, por cada lembrança ou sentimento que elas traziam e então tirou a boneca de pano, já bem esfarrapada desde os tempos de adolescente. Foi no banheiro, abriu o armário e pegou alguns remédios. Tomou todos. Deitou-se e dormiu. Acordou sobre seu túmulo gelado no cemitério de Hades. Levantou a cabeça.
- Oi. – disse a boneca, que estava do outro lado, sentada sobre uma das lápides de Oz. Por que você faz isso? Pelo Hades? Pelo garoto? Isso é amor? – perguntou a boneca.
Cora riu.
- De que adianta filosofia aos mortos? – ela disse. – Vamos, preciso do medalhão de Damien para voltar ao Limbo.



---

postado por The Oz às 01:56