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The Oz:

Um sonhador lúcido por natureza, eu caminho pelas ruas em constante devaneio. Olho a vida ao meu redor com os olhos de Will Eisner e a sensibilidade das histórias de Neil Gaiman. Alguém já me disse que sou o último dos românticos. De alma transparente, de coração ingênuo, calado e meio ermitão, talvez um dia eu me torne uma daquelas figuras mitológicas que dizem andar pelas ruas das cidades cinzas, mas que ninguém nunca viu. No fundo sou só um cara normal, com Orkut e amigos pseudo-malucos. Nada demais. No fundo, somos todos normais, mesmo com a esquisitice em moda.



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Echo

terça-feira, 11 de maio de 2010

O Mundo de Oz - Tomo II: Delirium - Cáp. 6

.delirium

Capítulo 6: Brighter Than The Sun

“E saiu disparado pela porta, correndo pelas ruas de Hell City.
Conforme corria, Oz via o Mundo se desfazer atrás dele. A anti-matéria estava consumindo tudo que encontrava pela frente. Oz chegou em casa e se trancou no quarto. Era hora de começar a planejar e construir seu novo Mundo. O velho já não fazia mais parte da sua vida. Lá fora, quase tudo era branco, um vazio, o nada. E o nada - a anti-matéria - ia se aproximando, consumindo tudo à sua volta até finalmente alcançar o quarto de Oz e ele mesmo. Tudo havia se tornando um branco sem limite. Um nada.
O fim do Mundo havia chegado.”
(Mundo de Oz 2.0 – Saga do Fim do Mundo, 2005)

Certa vez sonhei que estava de pijamas dentro de uma caixa de papelão. Um gato engraçado falava comigo sobre usar meus mundos que eu criava em minha mente para outras coisas mais nobres do que apenas para me divertir. Chamei aquele fragmento de sonho de “Sonho 1.138”, numa alusão a um filme em que um cara vai de encontro às pessoas normais e foge, em busca de um mundo melhor lá fora. São comuns em minha vida esses sonhos com referências que sempre escondem algo por trás. Como esse que estou tendo agora, onde encontro um quadro escrito "One who knows too much eventually goes insane.", uma frase dita por Delírio em alguma história do Sandman. Uma frase que poderia vir da boca de Mabi, enquanto ela passeia pelo Salão da Verdade, dentro do meu palácio esmeralda.
- Então, é aqui onde tudo é criado? – perguntou a Ilusão, enquanto passeava pelo enorme salão cheio de todo tipo de quinquilharia. Debruçou-se sobre o trono do Rei Nada.
- Não. – eu disse, secamente, pegando a Caixa de Coisas Mortas com a boneca de pano de Cora dentro. – Aqui é pra onde vêem as coisas depois de criadas e usadas. É onde me lembro quem já fui e quem sou de verdade.
Ela pegou um elefante de pelúcia queimado.
- Me parece um depósito de brinquedos que não se usa mais. – trocou o elefante por um gato branco de gesso com um medalhão japonês no pescoço. - Como sabe se suas criações não foram minhas criações? A saga da pré-estréia, por exemplo, poderia ela toda ter sido uma ilusão...
- Da mesma forma que sei que você também é criação da minha cabeça.
Ela riu alto.
- Querido, eu já existia antes de você me usar numa história! Você já me viu em sonhos reais desde que era pequeno. Sem falar de outros “personagens” – disse isso fazendo as aspas com dois dedos de cada mão. – Eles não são criação sua. Como Lúcifer, por exemplo.
Seu olhar quando disse isso me fez correr um frio sobrenatural pela espinha.

Acordou sobre uma sepultura com o nome de “Oz”. Não sabia se era ele, ou quem era. Sentiu um frio de gelar a alma e o ar soturno deveria dar-lhe medo, mas de fato sentia-se em casa. Ouviu algo. Procurou e encontrou um gato branco sentado sobre uma das sepulturas fora daquele círculo de dez túmulos em que estava. O gato pulou e perdeu-se na neblina. O garoto resolveu segui-lo. Sentiu algo vivo na neblina. Algo que sussurrava coisas inteligíveis. O gato branco parou. Estava no colo de um homem velho, mas de aparência vigorosa e sinistra.
- Olá, Segundo. – disse o velho, com voz ríspida e gelada. – Eu sou o Senhor das Trevas e vim lhe buscar para que passe para o outro lado renascido.
- Como assim? – perguntou o garoto, confuso como todos os outros. – Eu morri?
- De certa forma. – disse o homem, caminhando por um corredor de negras árvores secas, que curvavam-se umas de frente para outras, como um túnel.
- E... renascer? Como assim? Como isso será possível? – perguntou o garoto, seguindo-o.
- Da mesma forma que a Fênix. Queimando.

Mabi parou diante de uma das janelas do salão.
- Entenda, Oz. Você pegou todos aqueles sonhos malucos, incluindo os que entidades como eu lhe visitamos, e transformou em historinhas. Seria uma forma de não enlouquecer? Ou no fundo você só está “pregando a nossa palavra”?
Não sei o porquê, lembrei de mim entre milhares de corpos e a cara cheia de sangue, escorrendo pelo cabelo comprido, prestes a matar Zo, um lado sombrio de mim mesmo. “Não se pode matar a si mesmo sem morrer junto”, ele disse.
- Acho que nunca fui normal e não sou religioso. Acredito que somente fiz o que pedia minha vocação. Não acredito que tenha feito algo que eu de fato não quisesse. Você foi usada por mim, Mabi. E nunca fui um dos bonecos de Lúcifer, apesar de algumas pessoas terem achado que sim, em certos momentos de minha vida. A maldade não corre em minhas veias e estou longe de ser totalmente insano. O Mal e a Ilusão nunca me dominaram.
Ela ficou séria.
- Se a sua intenção foi a de me aprisionar num mundo irreal e a da Estrela da Manhã de usufruir de minha loucura e talento para fins maléficos, vocês se deram mal. Pois só o que conseguiram foi tornarem-se “personagens” – minha vez de fazer aspas com os dedos – de meus mundos particulares.
Ela começou a preparar-se para me enfrentar, e eu para matá-la e não sonhar mais com ela.

O menino trancou-se no quarto chorando, após a pior surra que havia levado do pai. Estava cansado de ser o bobo da classe, de não saber fazer amigos, de ser bonzinho demais e de nunca ser bom o suficiente para os pais. Sentia-se bem quando criava um mundo à parte em sua cabeça e esquecia do resto. Não podia ter os brinquedos que queria e que as outras crianças tinham, então resolveu criar sua própria diversão.
- Vou criar meus próprios mundos e viver neles! – disse, enxugando as lágrimas.
Pela primeira vez na vida, desejou morrer por ser tão difuso do mundo real, mas tudo que fez foi adormecer. O que era bom, pois sua imaginação fluía melhor nos sonhos. Sonhou com uma garotinha loira vestida de branco que lhe entregava um livro em branco. Quando acordou – ou achou que havia acordado – estava deitado sobre um gramado, sob uma enorme lua branca, num estranho cemitério coberto por uma espessa neblina. Ouviu uma voz feminina:
- Ah, eu adoro essa neblina! – ela disse – Nos faz caminhar sem saber o que há no próximo passo.
Com certa dificuldade, viu uma garotinha de pele pálida, cabelos negros, roupa preta e com fortes marcas nos pulsos.
- Oi, Oz. – ela disse.

O corredor de árvores terminou numa espécie de templo em ruínas, onde o velho com o gato branco abriu a porta e revelou um enorme salão com uma espécie de pira ao centro de uma espécie de altar, onde uma enorme ave de mármore esticava suas asas até o teto.
- Sabe, sempre que você vem para esse lado, tudo que tem que ser feito é levá-lo para o renascimento. Mas às vezes alguns interferem, para tentar mantê-lo aqui. – disse o enorme homem sombrio para o garoto. – Eu não posso fazer isso que estou fazendo, pois tenho um reino de Trevas e mortos de verdade para administrar, sabe? Mas eu gosto de você e quero contribuir para que tudo siga seu curso.
O garoto parecia não entender nada e de fato, não estava entendendo mesmo. O Senhor das Trevas o pôs dentro da pira e acenou com uma das mãos para o alto. O ar azulado e sombrio, frio, começou a ser iluminado por uma luz amarela que vinha de um buraco no teto do templo, até todo o ambiente ficar dourado e quente.
- Isso, é claro... – disse o velho – até a sua nona morte. Porque então só lhe restará a décima e última, que somente Aquele Que Permeia o Universo sabe quando será. O que sabemos, é dessa você não renascerá.
A luz amarela centralizou-se na pira e o garoto começou a brilhar como um Sol, até queimar e virar cinzas.
Acordei desse sonho me sentindo muito melhor do que quando adormeci, na noite anterior, quando estava com vontade de não existir mais, tamanho sofrimento que estava sendo minha pré-adolescência.

De repente, meu Salão da Verdade havia se tornado um monte de imagens confusas e obscuras. Mulheres que um dia desejei estavam se oferecendo pra mim e me repudiando ao mesmo tempo. Eu era um rei de meu mundo e podia fazer o que quiser, assim como me vi muito mai bonito do que eu era de verdade e as pessoas se importavam comigo, apesar de eu esnobá-las. Os caras que eu detestava estavam caindo mortos, um a um e um documentário sobre minha vida estava sendo feito, já que eu era alguém tão importante para a História. A mulher que eu amei estava implorando para que eu voltasse a ficar com ela, mas eu estava mais preocupado com a mulher perfeita que havia encontrado agora: com corpo perfeito, sexo maravilhoso e que me compreendia e não tinha nenhum defeito. Tudo ilusão.
- Você já foi melhor, Mabi. – eu disse. – Não precisa ficar desesperada, não tenho poder de matá-la de verdade, você sabe disso. Ninguém pode matar um conceito, uma idéia. Apenas vou eliminá-la de meu mundo e dos meus sonhos e tudo que restará será uma pedra com seu nome nela.
- Tantos delírios, para você terminar sozinho e melancólico. – disse a Ilusão. – Você pode estar descobrindo quem é e pra que veio a este mundo, Oz. Mas a que preço?
- Não é assim a vida? Tentamos encontrar sentido nela e às vezes chegamos ao fim dela sem ter certeza de nada. E no caminho temos alguns ganhos e algumas perdas...
Passei a mão pelo ar e então estava de volta ao Salão da Verdade. Encontrei e peguei um livro na mão. Não havia nada na capa, mas seu interior estava quase todo escrito.
- E, sabe Mabi... – eu disse, sorrindo – Não terminou. Só está começando.
Então soprei o livro e as folhas foram virando e as letras se pagando, virando pó. A loira de branco começou a se desfazer em poeira também. Quando a última letra havia sumido, Mabi já não existia mais. Não dentro daquela sala. Não em meu mundo. E eu tinha em minhas mãos um livro com páginas novamente em branco.

Sentei na cama, em minha nova e diminuta casa. Havia finalmente saído da casa dos meus pais e agora estava vivendo sozinho. Pensava em ser um bom pai para meus dois filhos pequenos, mas não conseguia vê-los com a freqüência que gostaria, desde que havia terminado meu relacionamento com a mãe deles. Meu coração agora pertencia a alguém cuja alma era idêntica à minha. Mas eu havia acabado de perder mais um emprego e algo fazia eu me sentir mais triste do que das outras vezes. Eu estava com dificuldade de viver e isso me dava vontade de não acordar após o adormecer. Então, abri os olhos e estava num cemitério estranho, com dez sepulturas formando um círculo, sobre uma estrela de dez pontas desenhada na terra. Algo me dizia que eu já estivera ali. Ainda mais quando um homem com roupas de arlequim surgiu, dizendo que seu “mestre” queria me ver. Mais estranho ainda foi ele me chamar de Nono Oz e me por diante de um espelho onde éramos uma pessoa só.
- Os deuses da vida começam a sumir atrás das lágrimas! Como iríamos saber por que escolhemos o caminho que seguimos? Por que machucamos aqueles que amamos? Parece que não há muito tempo para perder com reflexões... – ele começou dizendo.
E tudo o que eu sentia era uma enorme escuridão cobrindo minha alma.



A seguir: o último tomo da saga "O Mundo de Oz": "Dunkelheit", em 4 partes!
:]

postado por The Oz às 00:43