ImageHost.org

The Oz:

Um sonhador lúcido por natureza, eu caminho pelas ruas em constante devaneio. Olho a vida ao meu redor com os olhos de Will Eisner e a sensibilidade das histórias de Neil Gaiman. Alguém já me disse que sou o último dos românticos. De alma transparente, de coração ingênuo, calado e meio ermitão, talvez um dia eu me torne uma daquelas figuras mitológicas que dizem andar pelas ruas das cidades cinzas, mas que ninguém nunca viu. No fundo sou só um cara normal, com Orkut e amigos pseudo-malucos. Nada demais. No fundo, somos todos normais, mesmo com a esquisitice em moda.



blogs amigos

Designer na Pista
Blog da Bispo
Bqvrd
Tanto-faz
Guilherme Montana
Pseudologia Fantástica
Mult Pass
A Frase do Dia É
Acetoso
Nathíssima
Felim Propano
Subversiva

créditos

Powered by Blogger

Echo

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O Mundo de Oz - Tomo III: Dunkelheit - Cáp. 1 de 4

DUNKELHEIT
O Último dos Livros de Oz

Capítulo 1 - Dukelheit

“Cada um encontra para si um jeito de esquecer a vida, porque a vida dói demais, mas é preciso seguir com ela”.

Tudo em volta era sombrio e triste. Do lado de fora da caverna, tudo era escuridão. Ventos cortantes e uivantes corriam pela escura caverna ao pé de uma montanha. Lá dentro, alguém chorava. Parecia um homem – um garoto – envergonhado de si mesmo. Mas quando Hades, o senhor dos mortos e das Trevas chegou, apenas eu estava lá, com minha roupa de palhaço triste. Eu havia dito que era o Escuro, tomado a identidade de Hades, para poder dizer a mim mesmo (o garoto chorão) que deveria começar a viver. Hades aproximou-se. Senti mais frio.
- Foi como achou que fosse? – perguntou.
- Acho que sim... Nunca tenho muita certeza de nada.
Tentei limpar a maquiagem, transformando meu rosto num borrão. Hades olhou em volta.
- Poucas pessoas que conheci em minha eterna existência recriaram o Mundo Subterrâneo tão bem. Suas Trevas são quase tão soturnas quanto as minhas.
- Isso é um elogio? Não se sente mal por um sonhador aprendiz de escritor utilizar você e seus domínios sem permissão?
Acho que vi um leve sorriso no canto da boca de Hades. Difícil imaginar Hades sorrindo.
- Não pertenço a mim, pequeno Oz. Sou tão mitologia quanto você. Somos história, e só existimos quando alguém dedica parte de seu tempo a elas.
Sorri e parti ao encontro do Nono Oz. Precisava terminar. Ligar o fim ao começo...

Depois de falar comigo mesmo, dizer-me coisas que achei que nunca ouviria de alguém como eu, ainda me perdi por outros sonhos antes de acordar. Percorri por uma estranha floresta de árvores longas e compridas. Estava frio e escuro. Na verdade, era como se todos os meus mundos de sonhos estivessem imersos em escuridão. Parei. A escuridão não estava em meus mundos. Estava em minha alma. Acordei.
Tentei levar o dia numa boa, mas não dava mais. Tudo estava diferente. Os problemas do mundo real, da vida quando se está acordado, pareciam pequenos diante dos problemas que eu tinha dentro de mim. Quando disse a mim mesmo que eu era o Nono Oz e que eu “ressuscitaria” para viver minha décima e última vida, achei que estaria tudo bem, que meus problemas não existissem mais, que eu estaria “zerado”, pronto para uma “vida nova”. Mas não é assim que funciona. Não mesmo.

Lá estava eu em meu reino, dentro do meu palácio de vidro verde, sentado em meu trono de papel, pensando em como tornar aquele mundo de sonhos sombrio e deserto em algo um pouco mais interessante. Perdi um tempo imaginando outro trono ao meu lado e pus o corpo de Cora ali sentada, pálida e fria como gelo.
- A Inês é morta, caro Oz. – alguém disse.
Era Hades, o ser mitológico responsável pelo lugar para onde os mortos vão.
- Não adianta depositar seus sonhos nas mãos de uma rainha morta. Será apenas um adorno em putrefação. – ele disse.
- Alguma idéia para aproveitar esse Inverno que tem permeado meus sonhos? Depois que mandei Cora e Mefistófeles disfarçados ao meu passado para resgatar eu mesmo das mãos da Estrela da Manhã às vésperas de mais uma das minhas mortes, o anjo acabou morto. Depois que decidi enfrentar a Ilusão, meu amor ideal também acabou morto. Você perdeu seu ajudante e sua ninfa raptada. O que pode vir agora? Melhor tomar cuidado, senão destruo seu mundo também...
Hades riu. Não um sorrisinho, mas uma bela gargalhada, que o eco causado pelas paredes de vidro só fez ficar mais escandalosa. Quando parou, Hades virou-se para o pequeno globo que ficava no centro no salão. Era a Máquina do Mundo, uma miniatura do meu universo.
- Alguém que cria seu próprio universo quando está dormindo e o expande quando acordado sabe que todo universo tem um fim e um começo. Tome.
O velho esticou suas mãos sombrias e me entregou um livro. Tinha uma capa de couro com o símbolo de um “ankh” na capa. Dentro, somente páginas em branco.
- Se admira tanto o inglês criador dos Mestres dos Sonhos, sabe que assim como ele você é um deus em seu mundo. Por mais que lá fora as pessoas se submetam a religiões e filosofias alheias por falta de confiança em seus próprios sonhos, você sabe que é senhor de seu mundo e de sua vida. Por muito tempo você tem vivido em meus domínios. Trouxe seu reino para cá, intitulando-se um “morto”, mas aqui não é seu lugar. Um dia você pisará em meus domínios e não poderá deixá-lo mais. Pense nisso.
Então o senhor da Escuridão deixou meu palácio. E eu fiz a última das minhas reflexões e decidi terminar minha história sem usar seres mitológicos pré-existentes e recomeçar a reescrever aquelas páginas em branco com minhas palavras. Precisava falar com o último Oz.

postado por The Oz às 16:07