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The Oz:

Um sonhador lúcido por natureza, eu caminho pelas ruas em constante devaneio. Olho a vida ao meu redor com os olhos de Will Eisner e a sensibilidade das histórias de Neil Gaiman. Alguém já me disse que sou o último dos românticos. De alma transparente, de coração ingênuo, calado e meio ermitão, talvez um dia eu me torne uma daquelas figuras mitológicas que dizem andar pelas ruas das cidades cinzas, mas que ninguém nunca viu. No fundo sou só um cara normal, com Orkut e amigos pseudo-malucos. Nada demais. No fundo, somos todos normais, mesmo com a esquisitice em moda.


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Echo

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

O Mundo de Oz - Tomo I: Dead Poet - Cap. 3

O POETA MORTO

Cápítulo 3 - Triumph Of Death

Uma gata preta parecia majestosa sentada ao lado do enorme trono de mármore negro, envolto numa espécie de névoa sombria. Sentado no trono, acariciando sua gata, estava Hades, o senhor do submundo, do mundo dos mortos, das Trevas. Cora entrou no salão acompanhado de Mifistófeles, o anjo da morte pessoal de Hades.
- Olá, Ad. - disse a pequena suicida, agarrando-se ainda mais à sua boneca de pano.
- Bem-vinda de volta, Cora. - respondeu o senhor da escuridão, numa voz soturna e grave como só Hades teria. - Senti sua falta.
- E como sempre, foi me buscar com sua escuridão. Me sequestrar da vida, como sempre faz!
- É a nossa sina, querida. Desde quando você ainda era Perséfone! Desde muito antes de seu pequeno mago ser apenas uma idéia.
Cora percebeu um sentimento quase humano no senhor das Trevas.
- Ou acha que não sei que você estava tentando ajudar o pobre falecido? - completou Hades.
- Foi uma coincidência, querido. Ele apareceu lá, perdido. É o primeiro ainda. - ela se explicou.
- E outros virão. E passarão por aqui, como todos os semi-mortos. Espero que você respeite o amor que tenho por você.
- Querido, você está dando mais crédito para ele do que ele realmente tem! Aliás, se você disse que todos eles passarão por aqui e eu sei que esse provavelmente é o motivo pelo qual o encontrei sob sua sepultura, porque ele está no Inferno?
Hades pôs a gata no colo e a acariciou. Ficou ainda mais sério.
- Porque o demônio chegou lá primeiro, antes de Mefistófeles. Porque seu tio, o anjo caído, ainda acha que tem tanta importância quanto seu Pai para me desrespeitar. E isso com certeza trará intervenção da Terceira. Mas até lá, eu já tenho meus planos.
E olhou para os olhos da gata e a soltou no chão. A gata preta como as Trevas saiu em disparada e sumiu na escuridão das sombras do salão.
- Usar a May não lhe trará mais atrito com a Estrela-da-manhã? - perguntou Cora.
- Lúcifer escolheu seu caminho. - virou-se para o anjo sombrio atrás de Cora - Mefis, vá com Mayhem!
- Sim, senhor. - respondeu o anjo da morte, voando logo em seguida e desaparecendo em outra sombra.

Damien divertia-se em seus aposentos com as almas de duas garotas e um rapaz, além de sua preferida com cabeça de gato. Mordenkai estava sentado no saguão, à espera do que já sabia que viria e levantou-se de súbito. Sabia que já era a hora. Lá em cima, o filho do acusador tentava atingir o êxtase e nem percebeu a gata preta sentada em frente à cama, observando tudo.

O rapaz a quem chamavam de Oz continuava inebriado com os deleites de Isabel, aquela que já foi chamada de vampira, que o excitava e preparava-se para lhe dar prazer e extinção. Ele estava totalmente perdido, não sabia quem era e o que estava fazendo ali. Toda aquela história parecia muito confusa e uma sensação ruim anti-divina tomou sua mente, mas sabia que não conseguia controlar sua mente sem antes sair daquele transe. Estava completamente hipnotizado pela beleza de Isabel e pelo cheiro de sexo que permeava o ambiente. Sentia certa culpa, não sabia porque, mas também não conseguia abrir mão daquilo. Nem o apreço dela por sangue parecia incomodá-lo. Então, ela se deitou sobre ele. Ele explorou todo seu corpo com os olhos e as pontas dos dedos. Sentiu seus seios e então viu que apenas uma coisa a vestia: uma espécie de colar. Era uma espécie de crucifixo com um círculo. Uma cruz cóptica. Era um ankh.
- O... O que... O que é isso? - perguntou com dificuldade.
- Um símbolo de vida eterna. - respondeu ela. - Para que eu sempre continue jovem, apesar de minha idade.
Ela o acariciou entre as pernas e mostrou seus dentes de morcego.
Ele foi impelido não se sabe porque a pegar o colar com uma das mãos. Sentiu algo ao tocá-lo.
- Não. - respondeu, para espanto dela. - Não é um símbolo de vida eterna. É um símbolo da vida e de seu ciclo. Um símbolo de ressureição dos mortos.
E então ele se lembrou.

Mefistófeles pousou em frente a Mordenkai e ambos ficaram um tempo em silêncio, que foi quebrado pelo demônio.
- Você sabe que não termina aqui, anjo.
- Nunca termina, demônio. - respondeu o anjo da morte.
O demônio retirou de suas vestes um pequeno amuleto alaranjado e ornamentado com víboras e uma cabeça de dragão escarlate.
- Não sei se conseguirá fugir dele usando a herança que seu irmão deixou. E sabe que ele poderá parar em mãos erradas. - disse Mefistófeles.
- Ele não é o Criador. Vai ter trabalho em me achar. E quanto ao medalhão, ele estará com um de meus servos terrestres, até que Agat viva novamente. É o ciclo.
- É, é o ciclo eterno.
Então um forte e vermelho brilho surgiu do medalhão e quase cegou o anjo, fazendo desaparer o demônio. Mefitófeles limitou-se ao presente.
- Bom, onde está Mayhem pra levarmos a alma do pequeno Oz?

Damien sentiu o deslocamento de Mordenkai e isso interrompeu seu ato de luxúria. A mulher nua com cabeça de gato também sentiu uma presença e virou-se para o pé da cama. Viu Mayhem, a gata preta de Hades. Seus olhos ardiam. Bastet, a mulher-gato, sabia o que tinha que fazer. Ela mudou sua expressão para a de uma gata mais do que arisca e armou suas enormes unhas para um golpe nada amistoso. Damien percebeu que algo estava errado, mas não teve tempo de reagir, antes de Bastet cravar suas unhas enormes em suas partes íntimas, fazendo jorrar sangue para todo lado e tirando do filho de Lúcifer um grito de dor misturado a êxtase que fez tremer aquele peadaço do Inferno.

Isabel foi jogada para trás pelo rapaz falecido, que ficou com seu ankh nas mãos e enquanto sua mente se recolocava no lugar e lhe trazia a memória de quem ele era. De repente, a cruz cóptica incinerou-se em suas mãos e o próprio rapaz começou a queimar até virar apenas fogo. Queimou, gritou e acordou. Estava num quarto simples de uma casa que seus pais haviam alugado. Acordou se súbito, como quem recupera o ar. Olhou em volta, viu alguns brinquedos velhos, e um estranho homem de cabelos compridos de pé no canto do quarto, bem mal iluminado pela pouca luz da lua que entrava pela janela. Ele dava pequenos risinhos sinistros.
- Ainda pego você, mago. - ouviu ele dizer.
Tentou se mexer, mas parecia preso, imobilizado. Sentiu algo lhe puxando para trás, para muito além da cama. Tudo ficou escuro novamente. Sentiu frio. Sentiu-se como uma brisa. Não tinha corpo. Era mais como uma consciência, vagando pelo ar. Mas de alguma forma, viu o anjo da morte apresentando-se a Hades e Cora, que agora estava abraçada ao enorme, velho e sinistro senhor das Trevas. Mayhem, a gata preta, também estava lá. Mefistófeles parecia trazer algo em suas mãos, uma espécie de recipiente. Abriu. Havia cinzas dentro.
- Sei que está aqui, Oz. - disse Hades para o nada. - Sei que sua consciência está aqui. Você me deve essa, e cobrarei-lhe quando for a hora de encontrar-se com o Escuro novamente. Seu pássaro já está vindo. Essa sua primeira morte foi rápida, mas suficiente para estabelecer certos vínculos. Espero que possamos nos falar mais da próxima vez.
- Será em breve. - sussurou o vento.
- Eu sei. Cora ainda estará aqui. - Hades olhou para seu amor suicida, que parecia um pouco chateada com tudo aquilo. - Darei a você um livro da próxima vez. Mas por hora, tudo que posso dizer é boa sorte com o que está por vir.
- O que pode ser pior que o Inferno? - sussurrou novamente o vento. Hades riu.
- O que mais, senão a loucura, pequeno mago? A Ilusão pode ser bem mais desesperadora que uma eternidade no Inferno ou nas Trevas.
- Então farei os alicerces de meu Mundo nela. - sussurrou a consciência.
O som de poderosas asas foi ouvido e por uma das janelas do salão sombrio, entrou uma enorme ave de tons dourados e roxeados. Ela pegou o recipiente das mãos do anjo da morte e levou consigo. Oz sentiu sua consciência ser levada junto.
- Leve-o, Benu. - disse para si mesmo Cora, com olhar triste. - Leve-o para que ele possa voltar.
Assim, a ave levou as cinzas e a consciência daquele a quem chamavam de Oz para o alto de uma montanha estreita como um obelisco. Lá em cima, uma pira parecia ter cido feita. Benu depositou ali as cinzas e a consciência do mago falecido e transformou-se em chamas. O rapaz sentiu não só o calor, como também uma espécie de transfiguração, como se sua alma estivesse sendo revigorada. Como se estivesse renascendo. Abriu os olhos devagar em meio as cinzas e foi saindo de si mesmo, até acordar por completo. Estava num quarto simples de solteiro, na parte de cima de um beliche. Levantou-se sem olhar para nada mais, sem preceber nada mais. O mundo à sua volta ainda estava borrado. Caminhou até à janela e olhou para fora. Estava num prédio de apartamentos. Era dia. Chovia lá fora.
- Ótimo dia para renascer. - disse.



Fim do Tomo I.
Continua no Tomo II: "Delirium"

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postado por The Oz às 10:18 |