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The Oz:

Um sonhador lúcido por natureza, eu caminho pelas ruas em constante devaneio. Olho a vida ao meu redor com os olhos de Will Eisner e a sensibilidade das histórias de Neil Gaiman. Alguém já me disse que sou o último dos românticos. De alma transparente, de coração ingênuo, calado e meio ermitão, talvez um dia eu me torne uma daquelas figuras mitológicas que dizem andar pelas ruas das cidades cinzas, mas que ninguém nunca viu. No fundo sou só um cara normal, com Orkut e amigos pseudo-malucos. Nada demais. No fundo, somos todos normais, mesmo com a esquisitice em moda.


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Echo

sexta-feira, 22 de maio de 2009

O Mundo de Oz - Tomo II: Delirium - Cap. 2

.delirium

Capítulo 2: Nemo

A chuva. Sempre incessante. Caminhou pela lama negra e nem ligou muito para os uivos gélidos que o vento fazia naquele morro mórbido. Estava com uma roupa antiga, uma espécie de fraque do século XIX. Achou normal. Chegou ao topo do morro dos ventos uivantes e agonizantes. Havia alguém lá à sua espera. Uma garota, em belos e elegantes trajes negros e sombrios, tanto quando inebriantes. Aproximou-se. Viu seu longo cabelo negro dançar ao vento quando ela se virou. O nome Perséfone lhe veio à mente, não soube porque e então, a beijou.

E um frio logo tomou conta de sua espinha.

- Ei! Acorde!
Abriu os olhos. Uma espécie de fada com um copo na mão. Outras fadas em volta. Alguns porcos sobre suas patas traseiras e alguns robôs também. Havia sonhado e voltado à estranha festa em sua casa.
- Carinha, você me deu um baita susto! Tipo, achei que você tinha tido um colapso, sabe? Essas coisas que acontecem com pessoas reais na vida real. – disse a fada com a mão no peito antes de dar um gole no copo. – Cara, esse hidromel tá muito dez!
- Eu, eu não... Não entendo. Se eu estava sonhando, isso é o que? Não é a realidade!
- Ah, não! Claro que não! O que poderia ser? – disse a fada com uma das mãos estendida para o alto e olhando para cima.
O rapaz, perplexo, correu de volta para seu quarto e trancou a porta, achando-se seguro lá dentro. Mas percebeu que alguém discutia. Virou-se e espantou-se ao ver a si mesmo criança discutindo com outras versões idênticas sobre quem seria o dominante, enquanto uma menina tentava conseguir atenção de qualquer um deles. Toda aquela maluquice parecia bem real e o rapaz não sabia mesmo o que fazer. Encostou-se numa porta de vidro que havia numa estante atrás de si. Ouviu alguém batendo do lado de dentro da estante. Virou-se para a porta de vidro. Parecia um gato branco, com uma espécie de medalha japonesa no pescoço. Estava acenando para que ele o seguisse. Sem compreender nada, o rapaz abriu a porta de vidro e quando deu por si, já estava lá dentro, num corredor escuro com uma pequena luz distante. Caminhou até conseguir sair do corredor e surpreendeu-se ao ver que havia saído de trás de uma enorme rocha em pé, fincada numa pequena ilhota e com escritos de uma língua desconhecida. Era dia, o mar estava calmo e uma pequena ponte de corda ligava a ilhota ao continente. Do outro lado, estava outro dele mesmo, agora ligeiramente mais novo, contemplando os céus. O rapaz se pôs a correr para alcançar a si mesmo, mas deixou que seu outro eu escapasse, quando ele fez surgir do nada um espelho e o atravessou, fazendo-o sumir em seguida.
- Esse lugar não é maravilhoso?
O rapaz virou-se e lá estava ela, a garota loira de longo vestido branco.
- Takamagahara, o lugar mais lindo do Limbo! Tão bonito e colorido! Lembra o cenário de desenhos japoneses. Deve ter de dado um trabalhão para construí-lo.
- Você de novo? Quem é você? – indagou o rapaz.
Ela riu com vigor.
- Você não sabe mesmo? Isso vai ser mais divertido do que eu esperava!
- Você não é de toda estranha. Acho que já a vi em alguns sonhos... Nos mais malucos e reais, para falar a verdade. Mas...
Uma estranha carruagem puxada por cavalos alados de asas coloridas e conduzidas por um porco bem vestido pousaram próximo deles e a garota foi entrando nela.
- O mais interessante – disse ela – é que sempre que lhe nos vemos, você está perdido perdidinho, e isso é muito bom pra mim, hehe. Todos vocês são assim! Mas como vocês estão ficando raros, acho que perdi o costume. Vejo você do outro lado Oz, meu pequeno Nemo! – disse ela, dando sinal para que o porco conduzisse a carruagem para os céus. – A propósito – disse, antes de partir – meu nome é Mabi, mas isso não faz a menor diferença! Hahaha.
O rapaz ainda teve tempo de ver a carruagem se distanciando em direção a um enorme palácio oriental, no topo de uma montanha distante. Logo em seguida, começou a ventar. Ventar muito, muito mesmo. Olhou para cima e viu um enorme redemoinho se abrindo nos céus. Ouviu alguém rindo. Parecia feliz. Então, foi puxado no ar direto para dentro do redemoinho, com uma força que quase o nocauteou. Girou, girou e ficou tão tonto que quase desmaiou, até que sentiu bater numa espécie de chão. Olhou em volta. Era uma biblioteca muito antiga de um palácio de vidro. À sua frente, um homem estranho, vestido com uma roupa preta e branca similar a de um palhaço, dava pulos de alegria.
- Mestre! Mestre! – gritava ele – Há-há! Finalmente está aqui!

A neve teimava em cair e os céus esbravejavam em nome de Hades, seu senhor. Cora segurava uma corda com sete corvos amarrados nelas. Queria partir, não queria mais ficar ali. Queria voltar a viver novamente. Mas alguma coisa a estava prendendo à Terra Sem Luz e os corvos foram sem ela. Ajoelhou-se na neve e quis chorar, mas não havia choro do Outro Lado. Levantou-se e caminhou por entre as lápides do cemitério por onde veio e de onde volta. Olhou para o horizonte sombrio.
- Ah, como eu gostaria de sonhar novamente. – murmurou para si mesma.

O rapaz tentava recompor-se enquanto o palhaço estranho o enchia de perguntas.
- Diga mestre, qual vida é essa? A primeira? Última? Já passou pelos 10 Dias? E o demônio, já o enfrentou? E o irmão dele? O Escuro? A Mãe das Nixies? E Ela? – fez uma pausa e se aproximou – Já encontrou Ela? Sabe, quando o senhor me contou sobre Ela, me serviu de inspiração para continuar em busca de minha amada Colombina! Um dia...
- Peraí! Nunca vi você antes, mas sei quem você é! – interrompeu o rapaz.
- Pedrolino, ao seu dispor! Mas o senhor gosta de me chamar de Charles. E pelo visto, eu trouxe uma versão um tanto quanto perdida do senhor. – desanimou-se o homem.
- Se você pudesse me ajudar a entender o que está acontecendo comigo... Eu já morri algumas vezes, tive sonhos malucos, me chamam por um nome que não sei o que quer dizer... Queria só ir para casa...
- Hum... Você e a Dorothy. Mas posso dizer, seguramente, que o senhor está em casa! – disse, abrindo os braços e mostrando o interior do palácio. – Talvez ache suas respostas aqui, sem precisar ir a outro lugar. Afinal, “quem procura alguém, deve sempre ir em busca dessa pessoa, mas quando procuramos a nós mesmos, não vamos a lugar algum”!

Cora voltara para seu quarto nos domínios de Hades, quando ouviu Mesfistófeles se aproximando.
- Gostaria de ficar com meus pensamentos, Mefis. – ela disse.
- Perdão, milady. Mas há algo que achei que gostaria de ver.
Ela virou-se. O anjo de estranhas asas negras estendeu a mão e mostrou-lhe uma curiosa peça. Era um palácio em miniatura. Era ao mesmo tempo lindo e estranho. Parecia feito de vidro verde.
- Bonito. – ela disse, sem interesse. – Mas não vejo por que...
- Desculpe-me, alteza. Talvez fosse melhor olhar mais de perto.
Ela aproximou-se ainda mais e percebeu que a peça era de uma qualidade excepcional de detalhes. Havia algo de mágico nela, como se realmente fosse um palácio diminuto. Então viu uma pequena luz e, ao olhar com mais cuidado, espantou-se ao perceber, lá dentro, numa espécie de sala com livros ainda mais minúsculos e detalhados, um pequeno homenzinho vestido com uma roupa engraçada e um jovem rapaz. Estavam conversando entre si.
- Eu encontrei isso entre um dos recém chegados às Profundezas Pós-Vida de nosso amo Hades. Ele me chamou atenção e vi a peça caindo de suas mãos.
Cora tentou conter seu entusiasmo.
- Ele balbuciava algo sobre corvos e escrivaninhas e suas vestes o assemelhavam muito a um antigo chapeleiro.

postado por The Oz às 20:11 |